quarta-feira, 17 de julho de 2013

A Profissão do professor é bonita, é bonita e é bonita ?

Falando em ensinar, aprendemos durante uma licenciatura muitas teorias rebuscadas como as de Bachelard, Piaget, Vygotsky e Paulo Freire. Entretanto, é no estágio supervisionado que temos a oportunidade pragmática, ativa e construtivista de refletir sobre a atuação do professor na sociedade como indivíduo de atuação direta na transformação desta, como uma fatia muito importante de um enorme bolo, como diz Maria Socorro Lucena Lima, pesquisadora na área de Educação.

Na leitura e interpretação da música “O que é o que é”, do canto e compositor Gonzaguinha, faz-se possível elaborar reflexões enormes concernentes à educação brasileira, ao professor e ao estagiário, aspirante a esta profissão.

De onde vem e para onde vai a euforia em aprender? Logo na primeira frase da referida música, podemos relacionar o conteúdo poético com uma contradição frequente nas escolas. Um sujeito, na sua primeira infância e passos iniciais na carreira estudantil, sempre se alegra com a ideia de ir para a “escolinha”, o ensino infantil. Os pais se regozijam ao perceber que sua prole se apraz em aprender. Na escolinha, as crianças encontram seus colegas e professores, que passam a serem seus amigos. Neste contexto cultural gigantesco e primordialmente importante para seu desenvolvimento como cidadão e estudante, a criança aprende suas primeiras lições que, na grande maioria das vezes, lhe parece prazerosa. Acontece que, ao avançar na idade e nas séries/etapas da aprendizagem na escola, o interesse e euforia inicial se dissolvem como a espuma do mar e, o indivíduo veste-se de uma atitude de desinteresse e desgosto pela escola.

Não pretendo aqui, fazer generalizações. Percebe-se claramente na experiência cotidiana e em discussões nas disciplinas pedagógicas cursadas na licenciatura, como os alunos têm se apresentado cada vez mais desestimulados nas aulas. Desta forma, questiono-me sobre quais os motivos para este desinteresse surgir. Todavia, o local de ensino-aprendizado que é o ambiente escolar, pode ser prazeroso e por isso, “Eu fico com a pureza das respostas das crianças (...)”.

Na condição de estagiário e de “um eterno aprendiz” o estudante de licenciatura não deve se contentar em suas lições iniciais da graduação, mantendo sempre atualizado seu arsenal pedagógico. Já lecionando, o então professor, deve conscientizar-se que, apenas sabendo algumas teorias de afamados pedagogos e dominando sua base teórica sobre o conteúdo ensinado, não será um profissional de excelência. Ao invés disso, este deve reconhecer que o conhecimento não é algo estático, mas sim, dinâmico, e muda conforme a dança misteriosa que sociedade envolve-se ao transformar-se.

O estagiário, agora na condição ativa de refletir sobre as aulas observadas em instituições de ensino, coloca-se também, humilde ao encarar o mestre frente àquela sala de aula como o profissional que possui “experiência de campo para compartilhar”. É um novo momento de aprender. O licenciando deve enxergar-se como um discípulo que vai ao campo de trabalho aprender métodos, ferramentas que nem sempre são oferecidas nas aulas da faculdade. O momento do estágio, seja observacional ou regencial, é extremamente importante para a carreira deste indivíduo e, por hora, irá definir que profissional este será. Ele se enxergará naquele professor estudado.



Nós sabemos “que a vida devia ser bem melhor e será”. Amiúde, o estagiário pode decepcionar-se com a situação a que os docentes são submetidos (como é o caso do Brasil). Baixa remuneração, maratonas diárias de aulas, inclusive de três turnos, infraestrutura escolar imprópria para um ensino excelente, sem contar os problemas sociais, como o problema da violência que não é levado a sério, que batem à porta da sala de aula como um monstro que tenta desmotivar tanto o professor que, frequentemente busca outra profissão ou  o aspirante a professor que desiste deste anseio.

“Há quem diga que a gente é um nada no mundo”. Como os professores têm sido considerados no nosso meio sociocultural? Uma pesquisa de campo poderia até fornecer alguns dados. Palavras ao vento! As atitudes governamentais podem dizer tudo! Reconhecemos que uma boa parte da população estima muito os profissionais da educação. Contudo, questiono-me mais uma vez ao colocar em foco as autoridades governamentais. Sabemos que não fornecem, pelo menos no Brasil, total amparo, respeito e consideração por estes profissionais. Países como Estados Unidos, Cuba, China e Japão são exemplos de países que aplicam total importância à Educação e deveriam ser tomadas como modelo para nós.

 A carreira do docente deveria ser mais valorizada. Como trabalhadores da utopia e dela sonhadores, torna-se difícil lecionar na condição a que estes são reprimidos, mas necessário é sonhar com uma quimera que nunca acontecerá, para assim, manter a postura respeitável de mestre e até de futuro docente, no caso do estagiário. “Mas isso não impede que eu repita” esta profissão “é bonita, é bonita e é bonita”.

O educador é um ser humano. Ao ler a frase da música que se questiona, venho a me arguir a respeito desta característica pessoal. O profissional da docência é comumente visto apenas como uma maquina de ensinar que, para conseguir um salário digno, reverencia-se a incessantes horas de trabalho. “E a vida o que é diga lá meu irmão? Ela é a batida de um coração?”

A vida. “Ela é uma doce ilusão? E a vida, ela é maravilhosa ou é sofrimento? É alegria ou lamento?”. Somente no trecho acima, podemos fazer uma interseção muito grande com a vida do profissional docente.

O referido trabalhador (pois assim o é) também é um ser humano e, assim sendo, seus sentimentos e introspecções devem ser respeitados. Não raras vezes, nos deparamos com professores que apresentam casos de depressão, deixando em seguida a sala de aula. Este é o resultado de uma série de fatores que atingem diretamente o mestre e isto deve ser remediado e prevenido o quanto antes se se quer manter a qualidade do ensino e, consequentemente, a qualidade do país.

Sempre vejo na televisão e em outros veículos de informação, empresários que implantam atividades extras para seus empregados, como exercícios físicos especiais. Esta ação visa melhorar o humor destes (entre outros aspectos) e, por conseguinte, sua produção. Que atitudes poderiam ser tomadas pelo Estado (suposto “patrão”, em primeiro momento, dos professores) para respeitar e valorizar a característica sentimental do ser humano professor? Esta é uma atitude de respeito ao ser.

Ela é uma doce ilusão? (...) é maravilhosa ou é sofrimento? É alegria ou lamento?”. Partindo da realidade do emprego do professor nas condições que encontramos hoje, é utópico imaginar que este não enfrentará dificuldades muitas para exercer seu ofício. Todo profissional encontra dificuldades, obviamente, principalmente em um Sistema, como o brasileiro, que está longe de ser de primeiro mundo. Torna-se uma ilusão, talvez, imaginar uma carreira docente plenamente feliz. Os pretendentes afastam-se. Lamento.

 “Somos nós que fazemos a vida como der ou puder ou quiser”. Não é de hoje que temos ciência da função crucial da Educação para o desenvolvimento de um país. Haja vista as investidas educacionais revolucionárias que tomaram os Estados Unidos e países da Europa na criação de Projetos de Ensino como o PSSC (Physical Science Study Committee) e o Harvard Physics Project. Estes, como outros países “acordaram” de um sono cego e, a partir da aceleração e valorização do Ensino, cresceram como sociedade cultura e científica.
 Tal situação acaba, muito frequentemente, afastando o estagiário da possibilidade de lecionar. Será vanglorioso o dia em que o professor brasileiro não precisar mais fazer greves, reunindo-se na Avenida Paulista e parando o trânsito no intuito de ser ouvido. Será maravilhosa a bendita data em que este ofício será alvo de ambição e os vestibulares para licenciaturas estiverem entre os mais concorridos, como é o caso da Engenharia, Medicina e Direito. Não preciso nem citar quais as benditas graças que são nossos desejos. Todos já sabemos.


 O que é o que é? Indagar-se sobre a própria profissão, quais seus deveres e obrigações pode e é uma atitude restauradora para o docente possivelmente já abatido pelo tempo e uma tarefa quase obrigatória daqueles que se iniciam na carreira. Como o estagiário pode questionar-se? Deve questionar-se no âmbito de se tornar um profissional melhor que aquele que este tanto critica. Como um eterno aprendiz deve investigar quais possíveis ações dentro da sala de aula, da escola e da sociedade que podem mudar para melhor, mesmo que pouco a pouco, a situação atual da Educação. Deve questionar-se sempre, afinal, esta é uma bela profissão, “é bonita, é bonita e é bonita!”.




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