E de repente eu não me sinto mais em casa.O dia está nublado e hoje eu não ouvi os pássaros cantarem. Como que enfeitiçado meus olhos se abrem e libertos de uma antiga maldição de cegueira, passo a enxergar o calabouço em que me aprisiono.
Este lugar é úmido e sujo, fede mais que um animal em decomposição e este cheiro que antes eu não percebia, passa a incomodar meu olfato.
Há vinte anos tenho convivido em meio a ratos e outros animais imundos e nojentos. Por vezes eu tentei conviver em paz com eles, mas não é possível para mim. Estes animais são barulhentos e perturbadores e durante o sono me perturbam.
São ratos, cobras, baratas e escorpiões que às vezes me picam e eu sofro, mas não morro, seria bom demais morrer para um enjaulado como eu. A morte, esta sim seria a minha libertação deste cárcere sujo. Eu não posso me matar, se assim fizesse me enjaularia outra vez: tenho que cumprir minha pena com perseverança. Está difícil.
As lágrimas secam em meu rosto e formam cascas de lama e urina dos animais. Nos meus pés já vejo os ferimentos de infecções. Eu tento dialogar com estes animais e explicar minha dor, para que parem de me incomodar, mas sua atenção sempre está alheia à minha voz e meu pranto é em vão.
Vez ou outra, alguns pássaros descem em meu recanto de sofrimento e cantam para me acalmar, dizendo a mim que logo fora daquela prisão há um lugar melhor onde um dia poderei habitar. Mas este cantores alados não se demoram e logo me deixam só, só com os animais novamente.
Aqui me sinto fora de casa, não me habituei a este lixo de lugar. Eu tento entender minha estadia aqui, mas meu pranto ofusca minha busca por compreensão. Sinto-me um peixe fora d’água e minha espera é aterrorizante...
Oh... Grande pássaro libertador, venha em meu socorro e me livre da prisão que eu mesmo escolhi para mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário